>> 'Ia sumir um repórter por dia'.
Foi essa a ameaça ouvida no cativeiro por Guilherme Portanova, da TV Globo, caso a emissora não divulgasse vídeo do PCC.
Ao exibir o vídeo do Primeiro Comando da Capital, a TV Globo não teria salvo só a vida do repórter Guilherme Portanova, seqüestrado no sábado. Em um dos três cativeiros pelos quais passou, durante 42 horas, o jornalista ouviu que outros colegas poderiam ter o mesmo destino. "Se o material não for exibido, vai começar a sumir um repórter por dia", disse um dos bandidos a Portanova, gaúcho de 30 anos, gremista e, agora, transformado em celebridade pela tragédia acompanhada por todo o País.
Você teve medo de sofrer como Tim Lopes?
Eles falavam muito de Tim Lopes, que, se a fita não fosse ao ar, poderiam fazer como fizeram com ele. Usavam muito a história, a questão da violência . Meu medo era que os caras me torturassem ou me queimassem vivo. Passa tudo na cabeça nessa hora. Eles diziam: "Não vamos te matar, mas essa gravação tem de ir ao ar", isso logo no início. Aí, eu disse: "Você não vai matar, mas se teu chefe mandar, você vai me apagar. Quero fazer um acordo com você: que seja com capuz e uma bala só". Não foi um ato de coragem. Foi um ato de desespero.
Eles te ofereceram comida?
Eles buscariam qualquer coisa que eu quisesse comer. Só comi macarrão com salsicha, pão e tomei refrigerante. Pensei: água vai me fazer querer ir ao banheiro e não posso. E refrigerante me mantém acordado.
Você identificou muitas vozes?
Eram várias. No primeiro cativeiro, era comum ouvir cinco, seis, sete pessoas. Movimento de mais gente, porta bater. No terceiro, ficavam dois ou três. No segundo, ficou uma pessoa. Mas trocava toda hora.
Dá para dizer que mais repórteres correm risco?
Eu não diria isso. Dá para supor que talvez houvesse outro seqüestro em andamento ou outras ações, que não seqüestros, sendo arquitetadas. Eles diziam: "Se esse material nosso não for exibido, vai começar a sumir um repórter por dia".
Agora, como vê o PCC?
É um grupo criminoso que tem uma motivação na busca de poder. Tem um lado ideológico muito forte, por isso não me mataram. Não é uma quadrilha que se preocupa em roubar e ficar rico. É uma causa que usa como instrumento o terror.
Você acha que a exibição do vídeo abre precedente?
Acho que a Globo salvou a minha vida. Se não tivesse colocado o vídeo no ar, talvez neste momento não estaria te dando entrevista. É uma posição muito cômoda e acadêmica essa de não coloquem no ar. Falar isso sentado no gabinete é muito tranqüilo, bem embasado. Agora, sentado no cativeiro, amarrados os pés e os braços, acho que o discurso mudaria. Uma coisa é clara: quando se está numa situação dessa, quer que a gravação fique direto no ar. Acho uma crueldade no momento em que o cativeiro está se desenrolando abrir essa discussão. Por que não se discute isso em outro momento? Tem de abrir uma discussão para se avaliar como combater e prevenir este tipo de ação. Quem sabe uma avaliação se isso é fruto de selvageria ou de um problema social do País?
Como foi a recepção na Globo?
A Globo fez tudo que podia fazer e mais um pouco. Não voltei ao meu apartamento, não peguei meu carro, a segurança cuidou de tudo. Sobre aumento, trabalho, o que vai acontecer, não discutimos. De concreto, estou de licença pelo tempo que precisar.
Pensou em largar a profissão?
Quando eu estava no cativeiro, pensava: "Quero comprar um sitiozinho em Pomerode", próximo de Blumenau, onde trabalhei. Depois que passou, vi a mobilização da Globo e comecei a pensar que vale a pena, tem uma estrutura por trás. Mas é tudo incerto. Vou esperar uns dias.
Quer voltar para São Paulo?
Eu tenho vontade de voltar para São Paulo. Porto Alegre também é minha terra, onde está minha família. Estou decidindo. Esse fato não diminuiu a minha paixão por São Paulo, mas é claro que sair para a rua para fazer matéria não vai ser igual.
Ao exibir o vídeo do Primeiro Comando da Capital, a TV Globo não teria salvo só a vida do repórter Guilherme Portanova, seqüestrado no sábado. Em um dos três cativeiros pelos quais passou, durante 42 horas, o jornalista ouviu que outros colegas poderiam ter o mesmo destino. "Se o material não for exibido, vai começar a sumir um repórter por dia", disse um dos bandidos a Portanova, gaúcho de 30 anos, gremista e, agora, transformado em celebridade pela tragédia acompanhada por todo o País.
Você teve medo de sofrer como Tim Lopes?
Eles falavam muito de Tim Lopes, que, se a fita não fosse ao ar, poderiam fazer como fizeram com ele. Usavam muito a história, a questão da violência . Meu medo era que os caras me torturassem ou me queimassem vivo. Passa tudo na cabeça nessa hora. Eles diziam: "Não vamos te matar, mas essa gravação tem de ir ao ar", isso logo no início. Aí, eu disse: "Você não vai matar, mas se teu chefe mandar, você vai me apagar. Quero fazer um acordo com você: que seja com capuz e uma bala só". Não foi um ato de coragem. Foi um ato de desespero.
Eles te ofereceram comida?
Eles buscariam qualquer coisa que eu quisesse comer. Só comi macarrão com salsicha, pão e tomei refrigerante. Pensei: água vai me fazer querer ir ao banheiro e não posso. E refrigerante me mantém acordado.
Você identificou muitas vozes?
Eram várias. No primeiro cativeiro, era comum ouvir cinco, seis, sete pessoas. Movimento de mais gente, porta bater. No terceiro, ficavam dois ou três. No segundo, ficou uma pessoa. Mas trocava toda hora.
Dá para dizer que mais repórteres correm risco?
Eu não diria isso. Dá para supor que talvez houvesse outro seqüestro em andamento ou outras ações, que não seqüestros, sendo arquitetadas. Eles diziam: "Se esse material nosso não for exibido, vai começar a sumir um repórter por dia".
Agora, como vê o PCC?
É um grupo criminoso que tem uma motivação na busca de poder. Tem um lado ideológico muito forte, por isso não me mataram. Não é uma quadrilha que se preocupa em roubar e ficar rico. É uma causa que usa como instrumento o terror.
Você acha que a exibição do vídeo abre precedente?
Acho que a Globo salvou a minha vida. Se não tivesse colocado o vídeo no ar, talvez neste momento não estaria te dando entrevista. É uma posição muito cômoda e acadêmica essa de não coloquem no ar. Falar isso sentado no gabinete é muito tranqüilo, bem embasado. Agora, sentado no cativeiro, amarrados os pés e os braços, acho que o discurso mudaria. Uma coisa é clara: quando se está numa situação dessa, quer que a gravação fique direto no ar. Acho uma crueldade no momento em que o cativeiro está se desenrolando abrir essa discussão. Por que não se discute isso em outro momento? Tem de abrir uma discussão para se avaliar como combater e prevenir este tipo de ação. Quem sabe uma avaliação se isso é fruto de selvageria ou de um problema social do País?
Como foi a recepção na Globo?
A Globo fez tudo que podia fazer e mais um pouco. Não voltei ao meu apartamento, não peguei meu carro, a segurança cuidou de tudo. Sobre aumento, trabalho, o que vai acontecer, não discutimos. De concreto, estou de licença pelo tempo que precisar.
Pensou em largar a profissão?
Quando eu estava no cativeiro, pensava: "Quero comprar um sitiozinho em Pomerode", próximo de Blumenau, onde trabalhei. Depois que passou, vi a mobilização da Globo e comecei a pensar que vale a pena, tem uma estrutura por trás. Mas é tudo incerto. Vou esperar uns dias.
Quer voltar para São Paulo?
Eu tenho vontade de voltar para São Paulo. Porto Alegre também é minha terra, onde está minha família. Estou decidindo. Esse fato não diminuiu a minha paixão por São Paulo, mas é claro que sair para a rua para fazer matéria não vai ser igual.
3 Comentários:
Ia ser um por dia, que bom que não foi.
O PCC está cada dia mais ousado, fico só esperando qual o próximo passo deles e torçando pra que de tudo certo.
E os paulista enchiam a boca pra falar que Rio de Janeiro era violento, estão pagando a língua.
Estamos numa guerra civil praticamente, ninguém é poupado.
Nossa eu tento imaginar o que esse repórter passou durante essas horas em que esteve sequestrado.
Deve ser horrível.
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