18.8.06
>> 'Ia sumir um repórter por dia'.
Ao exibir o vídeo do Primeiro Comando da Capital, a TV Globo não teria salvo só a vida do repórter Guilherme Portanova, seqüestrado no sábado. Em um dos três cativeiros pelos quais passou, durante 42 horas, o jornalista ouviu que outros colegas poderiam ter o mesmo destino. "Se o material não for exibido, vai começar a sumir um repórter por dia", disse um dos bandidos a Portanova, gaúcho de 30 anos, gremista e, agora, transformado em celebridade pela tragédia acompanhada por todo o País.
Você teve medo de sofrer como Tim Lopes?
Eles falavam muito de Tim Lopes, que, se a fita não fosse ao ar, poderiam fazer como fizeram com ele. Usavam muito a história, a questão da violência . Meu medo era que os caras me torturassem ou me queimassem vivo. Passa tudo na cabeça nessa hora. Eles diziam: "Não vamos te matar, mas essa gravação tem de ir ao ar", isso logo no início. Aí, eu disse: "Você não vai matar, mas se teu chefe mandar, você vai me apagar. Quero fazer um acordo com você: que seja com capuz e uma bala só". Não foi um ato de coragem. Foi um ato de desespero.
Eles te ofereceram comida?
Eles buscariam qualquer coisa que eu quisesse comer. Só comi macarrão com salsicha, pão e tomei refrigerante. Pensei: água vai me fazer querer ir ao banheiro e não posso. E refrigerante me mantém acordado.
Você identificou muitas vozes?
Eram várias. No primeiro cativeiro, era comum ouvir cinco, seis, sete pessoas. Movimento de mais gente, porta bater. No terceiro, ficavam dois ou três. No segundo, ficou uma pessoa. Mas trocava toda hora.
Dá para dizer que mais repórteres correm risco?
Eu não diria isso. Dá para supor que talvez houvesse outro seqüestro em andamento ou outras ações, que não seqüestros, sendo arquitetadas. Eles diziam: "Se esse material nosso não for exibido, vai começar a sumir um repórter por dia".
Agora, como vê o PCC?
É um grupo criminoso que tem uma motivação na busca de poder. Tem um lado ideológico muito forte, por isso não me mataram. Não é uma quadrilha que se preocupa em roubar e ficar rico. É uma causa que usa como instrumento o terror.
Você acha que a exibição do vídeo abre precedente?
Acho que a Globo salvou a minha vida. Se não tivesse colocado o vídeo no ar, talvez neste momento não estaria te dando entrevista. É uma posição muito cômoda e acadêmica essa de não coloquem no ar. Falar isso sentado no gabinete é muito tranqüilo, bem embasado. Agora, sentado no cativeiro, amarrados os pés e os braços, acho que o discurso mudaria. Uma coisa é clara: quando se está numa situação dessa, quer que a gravação fique direto no ar. Acho uma crueldade no momento em que o cativeiro está se desenrolando abrir essa discussão. Por que não se discute isso em outro momento? Tem de abrir uma discussão para se avaliar como combater e prevenir este tipo de ação. Quem sabe uma avaliação se isso é fruto de selvageria ou de um problema social do País?
Como foi a recepção na Globo?
A Globo fez tudo que podia fazer e mais um pouco. Não voltei ao meu apartamento, não peguei meu carro, a segurança cuidou de tudo. Sobre aumento, trabalho, o que vai acontecer, não discutimos. De concreto, estou de licença pelo tempo que precisar.
Pensou em largar a profissão?
Quando eu estava no cativeiro, pensava: "Quero comprar um sitiozinho em Pomerode", próximo de Blumenau, onde trabalhei. Depois que passou, vi a mobilização da Globo e comecei a pensar que vale a pena, tem uma estrutura por trás. Mas é tudo incerto. Vou esperar uns dias.
Quer voltar para São Paulo?
Eu tenho vontade de voltar para São Paulo. Porto Alegre também é minha terra, onde está minha família. Estou decidindo. Esse fato não diminuiu a minha paixão por São Paulo, mas é claro que sair para a rua para fazer matéria não vai ser igual.
17.8.06
>> Polícia identifica criminoso mascarado que aparece em filmagem do PCC.
A polícia de São Paulo acredita já ter identificado o homem mascarado que aparece no vídeo enviado pela facção criminosa PCC (Primeiro Comando da Capital) à Rede Globo no último sábado e cuja exibição foi a condição para que o repórter Guilherme Portanova, seqüestrado nas proximidades da emissora na zona sul de São Paulo, fosse libertado.A identificação teria sido feita pelo serviço de inteligência a partir de um programa de computador que permite comparar a circunferência do rosto do mascarado, e de outros traços, com retratos de criminosos já fichados na polícia. A voz do criminoso será novamente cruzada com as dos arquivos mantidos pela Polícia Civil.
A polícia prefere não divulgar o nome do suspeito porque acredita que isso atrapalharia as investigações."Estamos checando o número de série das bananas de dinamite, identificadas no vídeo, para saber de onde elas saíram", afirma o delegado Wagner Giudice, diretor da DAS (Divisão Anti-Seqüestro).Os homens que renderam o jornalistas --e cujos retratos falados foram divulgados-- continuam sendo procurados.
Lembo
O governador de São Paulo, Cláudio Lembo (PFL), anunciou ontem que irá se encontrar novamente, amanhã, com o ministro da Justiça, Márcio Thomaz Bastos, e com o Comando Militar do Sudeste do Exército para discutir medidas de combate ao crime. A reunião foi anunciada ontem.Questionado sobre a possibilidade de enviar o chefe da facção criminosa PCC (Primeiro Comando da Capital) Marco Willians Herbas Camacho, o Marcola, para o presídio federal de segurança máxima em Catanduvas (PR), disse: "Não há nenhuma posição de afogadilho. Estamos analisando com tranqüilidade o tema e, se for preciso, ele irá. Mas atualmente não há nenhum risco, ele está isolado".
>> Alckmin evita autocrítica sobre segurança em SP e dá respaldo a Saulo.
Ex-governador disse que PCC sempre existiu e negou que componentes do governo tenham anunciado o fim da facção
SÃO PAULO - O candidato do PSDB à Presidência da República, Geraldo Alckmin (PSDB), evitou nesta quarta-feira realizar uma autocrítica sobre a gestão na segurança pública, durante seu governo do Estado de São Paulo. Em sabatina promovida pelo Grupo Estado, Alckmin se esquivou de uma eventual mea-culpa e preferiu não mencionar quaisquer erros durante a sua gestão, além de evitar realizar crítica direta ao atual secretário de Segurança Pública, Saulo de Castro Abreu Filho, nomeado por ele.
"Se eu tivesse (erros), eu já teria corrigido", afirmou Alckmin. "Eu sou admirador do Saulo. Claro que ele tem personalidade controvertida", disse. "Os estilos são diferentes, mas é um bom gestor", acrescentou, mencionando feitos de Saulo, como, entre outros, a extinção de unidades da Febem.
Indagado sobre as recentes declarações do secretário, de que o PT estaria ligado aos recentes ataques do Primeiro Comando da Capital (PCC) a São Paulo, Alckmin limitou-se a dizer: "Aí é um assunto da polícia. Cabe a polícia investigar quais os interesses que estão por trás disso. Eu não vou fazer nenhuma ligação."
E continuou: "É claro que o objetivo é uma guerra de opinião pública, uma luta para interferir no processo eleitoral de uma maneira muito clara."
Questionado pela jornalista Elizabeth Lopes, da Agência Estado, se levaria Saulo para Brasília, se fosse eleito, já que o admirava, o ex-governador paulista se mostrou desconcertado e apenas afirmou que a indicação de nomes de ministros, sem a eleição consumada, "dá um azar danado".
´O PCC sempre existiu´
Sobre a crise na segurança, o candidato tucano afirmou que organizações criminosas, como o Primeiro Comando da Capital (PCC), sempre existiram e que a diferença do Estado de São Paulo é que elas são enfrentadas. "O PCC não surgiu agora. E organização criminosa em cadeia, liderança, organização do crime, isso sempre existiu", disse. "Aqui, ele é enfrentado. É diferente", acrescentou.
O ex-governador paulista negou que alguns componentes do governo tucano - antes da onda de violência promovida pela facção no Estado - teriam afirmado que o PCC havia acabado. "Um delegado fez essa declaração e eu quero dizer aqui o seguinte: essa é uma guerra que tem que vencer batalha todos os dias."
Alckmin criticou também o policiamento de fronteira, coordenado pelo governo federal, de seu adversário na disputa, Luiz Inácio Lula da Silva (PT), que, segundo Alckmin, se omitiu na questão da segurança.
De acordo com ele, caso eleito, será feita uma "união nacional" sobre a segurança, sem omissão do presidente. "Eu tenho um lado. O meu lado é contra o crime", ressaltou.
Geraldo Alckmin abre o ciclo de entrevistas com os quatro primeiros colocados nas pesquisas sobre a disputa presidencial. O próximo sabatinado será o candidato Cristovam Buarque.
16.8.06
>> Mais uma repórter sob ameaça.
Menos de 48 horas depois do fim do seqüestro do jornalista Guilherme Portanova, a informação de que outro profissional da reportagem teve sua integridade ameaçada surgiu nesta terça-feira (15/08). Maria Mazzei, repórter do jornal O Dia, e a sua família estão sofrendo ameaças.
Maria escreveu uma série de reportagens sobre a Máfia dos Corpos no Rio de Janeiro. As matérias mostravam como funcionários do IML vendiam cadáveres para golpes.
A repórter sofreu ameaças por telefone desde que as matérias começaram a ser publicadas. Além disso, vizinhos viram um carro escuro com cinco ocupantes rondando sua residência várias vezes. O Dia comunicou as autoridades policiais e providenciou a mudança da jornalista e sua família para um local seguro com escolta policial.
Nesta segunda-feira (15/08), o jornal enviou carta para o secretário estadual de Segurança, delegado Roberto Precioso: “Todas as providências ao alcance da empresa estão sendo tomadas, mas questões de segurança são próprias e, definitivamente, do Estado, ao qual cabe, nesta solicitação, prover Maria Mazzei e sua família de proteção ininterrupta até que os delinqüentes envolvidos neste episódio sejam presos e entregues à Justiça”, dizia o comunicado.
O delegado considerou a ameaça inaceitável e afirmou que a polícia irá apurar o caso e identificar os envolvidos. No sábado passado (12/08), Maria entrevistou o ex-oficial da Marinha Mercante Yussef Georges Sarkis, 52 anos, acusado de ter forjado a própria morte para receber quase R$ 1 milhão em prêmios de seguro de vida. A conversa foi gravada e Yussef chegou a dizer que possuía amigos que eram “seqüestradores e policiais ligados a grupos de extermínio”.
Entre os criminosos envolvidos estariam funcionários do IML, agentes funerários e pessoas interessadas em fraudar seguros, pensões ou escapar de condenações. Procurada pelo Comunique-se para comentar as ameaças, Maria Mazzei apenas afirmou que foi orientada pela Secretaria de Segurança a não falar sobre o caso.
>> Apenas 4% dos indultados não retornaram aos presídios.
SÃO PAULO - Segundo nota do Tribunal de Justiça, apenas 4% dos detentos da capital paulista beneficiados, na manhã de sexta-feira, pelo indulto de Dia dos Pais não retornaram para os presídios. Saíram 707 e retornaram 680, segundo a nota.
Dos 27 que não retornaram, 23 são mulheres, que deveriam voltar até as 18 horas de segunda-feira para a Penitenciária Feminina do Butantã, na zona oeste da cidade. Dos quatro homens, dois são do Centro de Detenção Provisória Belém II e dois do Centro de Progressão Penitenciário de São Miguel Paulista. A volta dos internos indultados dos presídios Belém I e Especial da Polícia Civil foi integral.
Em todo o Estado de São Paulo - onde o número de indultados que tiveram a liberdade de passar o fim de semana com a família chegou a 13.085 -, segundo um balanço parcial da Secretaria da Administração Penitenciária (SAP) houve um retorno de 97,7%. O balanço definitivo, porém, só será divulgado na próxima sexta-feira, dia 18.
Alguns envolveram-se em crimes. Entre eles, um foi morto por policiais, após assalto em Guarulhos na segunda-feira; outro foi detido em Barretos colando cartazes do PCC. Outros, que só retornariam na terça-feira, culparam a greve do metrô, que dificultou sua locomoção e atrasou a apresentação à direção dos presídios, o que os transformou em "foragidos".
15.8.06
>> Polícia liga dois seqüestradores de funcionários da Globo ao PCC.
No DVD, um suposto integrante do PCC (Primeiro Comando da Capital) aparece em frente a uma parede pichada com a sigla da facção e lê uma carta com críticas ao sistema penitenciário brasileiro e ao RDD (Regime Disciplinar Diferenciado), que impõe regras mais rígidas aos presos.Segundo a DAS, além da filmagem, há outro indício de que os criminosos integravam a organização criminosa. Dois dos três homens que aparecem em retratos falados feitos com base nos depoimentos de testemunhas da captura dos funcionários da Globo lembram dois ex-detentos do Estado.
Para identificar os criminosos, a Polícia Civil conta com consultas ao banco de imagens mantido pelo Departamento de Inteligência da SAP (Secretaria de Estado de Administração Penitenciária).O delegado Wagner Giudice, responsável pela DAS e um dos coordenadores da investigação, acredita que os cativeiros onde Calado e Portanova foram mantidos fiquem na região da zona sul da capital.
>> Ao menos dez pessoas participaram de seqüestro de funcionários da Globo.
Ao menos dez pessoas participaram do seqüestro do repórter Guilherme de Azevedo Portanova, 30, e do auxiliar técnico Alexandre Coelho Calado, 27, de acordo com investigações da polícia. Ambos são funcionários da TV Globo.Portanova e Calado foram seqüestrados na manhã de sábado (12) quando saíam de uma padaria, próximo à sede da emissora, na zona sul de São Paulo. O técnico foi libertado na madrugada de domingo, com um DVD que foi exibido pela Globo como condição para a libertação do repórter.
Um boletim de plantão comandado pelo também repórter César Tralli entrou no ar à 0h28 de domingo (13) e exibiu as imagens --editadas-- do DVD para todo o Estado. O repórter foi libertado na madrugada desta segunda-feira e prestou depoimento à Polícia Civil à tarde.A polícia afirma que os dois funcionários da TV ficaram em pelo menos dois cativeiros diferentes. Os criminosos que os mantiveram em cárcere disseram que são do PCC (Primeiro Comando da Capital)"Eu não fui agredido e fui alimentado o tempo todo", disse Portanova poucos minutos após sua libertação. "Ali, naquele momento, eles sentiram talvez que tivessem concluído o serviço deles e resolveram me soltar."Portanova disse ainda que não foi ameaçado de morte enquanto esteve em poder dos bandidos. "Fiquei o tempo todo de capuz."O repórter foi deixado em uma rua do Morumbi (zona oeste de São Paulo), no final da noite de domingo.
Ele pegou carona em um carro de uma empresa de segurança particular e chegou à sede da emissora, por volta da 1h.
Vídeo
O DVD continha um vídeo em que um suposto integrante do PCC faz críticas ao sistema penitenciário em frente a uma parede pichada. Ele pede um mutirão para revisão de penas, melhores condições carcerárias, e se posiciona contra o RDD, que impõe regras mais rígidas aos presos.Nas imagens exibidas, a Globo cortou a introdução na qual eram mostradas armas de guerra, dinamites, granadas e coquetéis molotov.
O vídeo entrou no ar no intervalo do "Supercine" que, na Grande São Paulo, costuma ter mais de dez pontos no Ibope, o que equivale a mais de 550 mil domicílios. À noite, a emissora exibiu parte do manifesto no "Fantástico".Uma cópia do DVD foi enviada à Folha na quarta-feira (9). Sua autenticidade não era comprovada. O jornal relatou parte do conteúdo da filmagem em reportagem publicada na quinta-feira (10).Uma outra cópia foi jogada, na sexta-feira (11), no estacionamento do SBT.
A emissora encaminhou uma cópia ao Ministério Público.Parte do comunicado repete quase na íntegra trechos de parecer do Conselho Nacional de Política Criminal e Penitenciária do Ministério da Justiça, de abril de 2003. O órgão apontava, na ocasião, aquilo que considerava ilegalidades do RDD.
Perícia
O vídeo foi encaminhado para perícia em busca de digitais. A voz foi comparada com diálogos de seqüestradores gravados pela polícia, sem sucesso. A polícia requisitou também imagens das câmeras das rodovias a fim de tentar descobrir se o Gol utilizado no seqüestro deixou a cidade.O diretor de jornalismo da TV Globo São Paulo, Luiz Cláudio Latgê, disse que a decisão de atender a reivindicação dos criminosos foi da emissora, sem participação do governo de São Paulo ou da polícia. Em nota, a emissora informou ter sido orientada por órgãos internacionais a ceder à pressão.
>> Auxiliar técnico da Globo dá detalhes sobre permanência em cativeiro.
O delegado tentará ouvir Portanova ainda nesta segunda-feira. O Ministério Público de São Paulo nomeou dois promotores para o acompanhamento das investigações.
No cativeiro
Cabeça baixa, o auxiliar ouvia os seqüestradores se tratarem por codinomes como Tio e Jão, enquanto, ao fundo, um rádio tocava funk.Calado, 27, ficou entre as 7h50 e as 22h30 de sábado (12) seqüestrado. Saiu com a condição de entregar à Globo uma carta e um CD para que o repórter Guilherme Portanova, 30, capturado com ele, não fosse morto. "A vida do teu colega está na tua mão", escutou dos seqüestradores, segundo a Globo. Ouviu mais: caso o vídeo não fosse exibido, Calado e a família morreriam.A emissora interrompeu a programação e exibiu o vídeo à 0h28. Nele, um homem, com a sigla do PCC ao fundo, lia um manifesto com críticas ao sistema penitenciário.
O assistente técnico foi deixado na ponte do Morumbi, a cerca de 300 metros da sede da Globo, na avenida Luís Carlos Berrini (zona sul de São Paulo). Estava no porta-malas de um carro pequeno, não-identificado, disse a polícia. Em seguida, saiu do carro e andou até a portaria da emissora.Aos familiares e à polícia, Alexandre Calado disse ter ficado "apavorado" durante o seqüestro. Estava em choque ao ser encontrado. Ele foi levado para um hotel, pela Globo, em local não divulgado.Portanova foi deixado em uma rua do Morumbi (zona oeste de São Paulo), no final da noite de domingo. Ele pegou carona em um carro de uma empresa de segurança particular e chegou à sede da emissora, no Brooklin (zona sul de São Paulo), por volta da 1h desta segunda.
Ele foi recebido por colegas. Pouco depois, conseguiu conversar com os pais, que viajaram do Rio Grande do Sul para São Paulo para acompanhar os desdobramentos do caso. Antes da libertação do repórter, a mãe dele disse que trocaria de lugar com ele, se pudesse.
Vídeo
No vídeo exibido pela Globo, um suposto integrante do PCC faz críticas ao sistema penitenciário em frente a uma parede pichada. Ele pede um mutirão para revisão de penas, melhores condições carcerárias, e se posiciona contra o RDD, que impõe regras mais rígidas aos presos.
Nas imagens exibidas, a Globo cortou a introdução na qual eram mostradas armas de guerra, dinamites, granadas e coquetéis molotov. O vídeo entrou no ar no intervalo do "Supercine" que, na Grande São Paulo, costuma ter mais de dez pontos no Ibope, o que equivale a mais de 550 mil domicílios. À noite, a emissora exibiu parte do manifesto no "Fantástico".Uma cópia do DVD foi enviada à Folha na quarta-feira (9). Sua autenticidade não era comprovada. O jornal relatou parte do conteúdo da filmagem em reportagem publicada na quinta-feira (10).Uma outra cópia foi jogada, na sexta-feira (11), no estacionamento do SBT. A emissora encaminhou uma cópia ao Ministério Público.Parte do comunicado repete quase na íntegra trechos de parecer do Conselho Nacional de Política Criminal e Penitenciária do Ministério da Justiça, de abril de 2003.
O órgão apontava, na ocasião, aquilo que considerava ilegalidades do RDD.CapturaNo dia do seqüestro, o repórter e o auxiliar técnico haviam passado na padaria cerca de uma hora após chegar à emissora.Eles deixavam o local rumo a uma caminhonete da Globo quando, segundo testemunhas ouvidas pela Folha, foram abordados por dois homens armados que também estavam no estabelecimento. Um dos homens os fez entrar em um Vectra escuro; o outro entrou em um Gol vermelho.Dois motoristas de um hotel próximo ao local chegavam à padaria no momento da ação e foram rendidos.
Antes de fugir, um dos criminosos entrou no carro da Globo e mexeu nos equipamentos de televisão que lá estavam, mas nada levou.O Vectra foi encontrado por volta das 8h15 na avenida Portugal, no Brooklin (zona sul de São Paulo). Ele havia sido roubado no último dia 10. Segundo testemunhas ouvidas pela polícia, os criminosos tiraram os funcionários da Globo do veículo e, com eles, entraram no Gol vermelho. Em seguida, o homem que estava na moto ateou fogo no Vectra e fugiu.Nesta segunda, após ter sido solto, Portanova declarou que trocou de cativeiro "várias vezes".
14.8.06
>> Seqüestro parece "atentado político", afirma Alckmin.
O candidato do PSDB a presidente, o ex-governador de São Paulo Geraldo Alckmin, afirmou ontem que o seqüestro do jornalista Guilherme Portanova, da TV Globo, tem "características de atentado político", mas evitou relacionar o crime à facção criminosa PCC ou a qualquer partido político.Temeroso quanto à possibilidade de um ataque contra sua campanha, o candidato requisitou, pela primeira vez, proteção da Polícia Federal e ontem participou de atividade eleitoral na zona leste da capital paulista sob a proteção de dois agentes.No PSDB e no PFL, ganhou força no final de semana a corrente que defende atacar a suposta ligação do PCC com integrantes do PT no horário gratuito de rádio e TV, que terá início amanhã em todo o país.Alckmin, contrário à estratégia, foi mais cauteloso.
"Quero manifestar toda a minha solidariedade à família da vítima, à TV Globo, mas vamos aguardar. Tem todas as características de atentado político, mas nos cabe agora... Vou deixar para me pronunciar daqui a alguma horas", afirmou Alckmin, por volta das 12h30, ao deixar um culto religioso.Em seguida, questionado sobre a afirmação, ele não quis responder. "Não vou fazer nenhum comentário enquanto essa questão não estiver resolvida. Qual o próximo tema?"A expectativa do ex-governador, que deixou o cargo no final de março, era de que a polícia libertasse o jornalista ainda ontem.
O tucano estava em contato permanente com o secretário da Segurança, Saulo de Castro Abreu Filho, um de seus aliados no governo.Alckmin decidiu que não iria atribuir o crime ao PCC nem comentar as reivindicações da facção para não confrontar os seqüestradores, o que, no seu entender, poderia colocar em risco a vida do jornalista. Seu receio era de que um desfecho infeliz da operação pudesse ser atribuído a ele.No início da madrugada de ontem, um suposto membro do PCC pedia, em vídeo divulgado pela TV Globo, mudanças no sistema prisional do Estado.
Anteontem, o tucano José Serra, candidato ao governo de São Paulo, declarou que o PCC faz oposição ao PSDB. "O crime organizado não gosta do PSDB. Esse é um dado da realidade, que aparece em todas as gravações e conversações que até hoje vieram a público", disse.Serra era aguardado ontem pela manhã num evento da campanha de Alckmin, mas preferiu dedicar o dia à família e às reuniões com seu núcleo político. À noite, o ex-prefeito gravou programas do horário eleitoral de rádio e TV.
Clima de terror
Como de costume, Alckmin e seus assessores diretos chegaram ao templo evangélico da Comunidade da Graça, na Vila Carrão (zona leste), em um táxi. Logo atrás, no entanto, vinha a escolta de um carro azul, com dois agentes à paisana.Durante o evento, um deles ficou no interior do templo, onde estavam cerca de 2.000 pessoas, e outro circulou pela parte de fora. O ajudante-de-ordens do ex-governador, um policial militar, usava coletes à prova de bala, medida adotada apenas em situações críticas.
Alckmin, segundo a Folha apurou, dispensou o uso da proteção.Conforme a lei, todos os candidatos a presidente têm direito à proteção da PF. Alckmin, no início da campanha, havia dispensado o auxílio. Mas, segundo tucanos ligados a ele, as ameaças do PCC contra Alckmin e sua família teriam aumentado nos últimos dias.
>> Saulo tentou evitar a divulgação do vídeo.
Ele foi enviado pela secretaria para falar com a Globo.Na avaliação da polícia, ao ceder a um pedido, abre-se a possibilidade de que outras reivindicações sejam feitas da mesma maneira. A determinação de transmitir o vídeo partiu dos seqüestradores de Portanova como condição para que ele não fosse assassinado.Pela sugestão dos policiais, a ação da Globo deveria seguir a negociação de um seqüestro convencional: 1) procurar não ceder "facilmente" às exigências dos captores --"Não pode ceder facilmente, senão vira rotina", disse um delegado da cúpula da polícia, sob anonimato. 2) exigir uma prova de vida, como uma foto do repórter acompanhada de um jornal do dia.Embora tenha tentado pressionar a emissora, a cúpula da polícia paulista reconheceu que a decisão de veicular o vídeo ficou restrita à Globo.
Lembo
Assim como o secretário da Segurança, o governador de São Paulo, Cláudio Lembo (PFL), optou por não se pronunciar ontem. Eles não participaram de eventos públicos.O ministro Tarso Genro (Relações Institucionais) foi um dos raros integrantes da cúpula do governo federal a se manifestar sobre a mais recente ação do PCC.
Disse que demonstra uma "ousadia inaceitável" por parte do crime.O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) acompanha o caso desde sábado por relatos do ministro Márcio Thomaz Bastos (Justiça), que, por sua vez, se manteve em contato com Lembo.Tarso Genro considerou "correta" a decisão da Globo de cumprir a exigência feita pelos seqüestradores.
>> Repórter da Rede Globo é libertado.
São Paulo - O repórter Guilherme Portanova, da TV Globo, foi liberado, por volta da 0h30 desta segunda-feira, em uma rua do bairro do Morumbi, na Zona Sul.
Segundo funcionário da TV Globo, Portanova não soube identificar o carro no qual estava quando foi deixado pelos criminosos na zona Sul da cidade. Um segurança de uma empresa privada foi quem socorreu o repórter e o levou até a sede da emissora, no bairro do Brooklin, onde chegou à 1h05 de segunda. Os bandidos continuam foragidos.
A primeira coisa que o repórter pediu aos colegas quando chegou à emissora era que gostaria de entrar em contato com parentes e ver imediatamente sua família. Guilherme não estava ferido, mas muito assustado e disse poucas palavras.
Seqüestrado na manhã de sábado, 12, ficou em poder de seus seqüestradores, mesmo após a veiculação de um vídeo produzido pela facção criminosa Primeiro Comando da Capital.
O auxiliar técnico, Alexandre Coelho Calado, que também foi levado pelos seqüestradores na manhã do sábado, foi liberado no mesmo dia com a incumbência de levar à emissora um vídeo gravado, cujo conteúdo foi ao ar no início da madrugada de domingo pela TV Globo. No vídeo um criminoso, usando uma touca ninja, exige o fim do Regime Disciplinar Diferenciado (RDD) implantado no sistema prisional paulista. Essa era a condição para que Guilherme fosse liberado.
Segundo Alexandre, ficou claro que os seqüestradores não tinham um alvo específico. "Eles levariam qualquer um de uma das equipes da TV Globo. Podia ser eu, podia ser qualquer um que estivesse lá na hora", disse Calado.
O auxiliar técnico disse também que ele e Portanova ficaram a maior parte do tempo sentados no banco traseiro de um dos carros usados no seqüestro, parado no interior de uma garagem, num lugar que não soube identificar. Ele ficou o tempo todo de olhos vendados ou sentado virado para uma parede.
Quinze horas depois, Calado foi separado de Portanova. "Daí eu saí desse carro (um Gol vermelho) e o Portanova ficou lá. Eles colocaram ele no porta-malas e me tiraram do carro. Aí eu fiquei na garagem sentado, virado para a parede. Algum tempo depois, fui colocado no porta-malas de outro carro e deixado aqui, a duas quadras da TV Globo", disse Calado, que trabalha há cinco meses na emissora. Após o depoimento de Calado, o apresentador do programa, Zeca Camargo, disse, em nome da TV Globo, que a emissora espera a libertação imediata de Portanova.
O vídeo usado pelo PCC para condicionar a libertação do repórter foi gravado na última segunda-feira, 7, mesmo dia em que a facção divulgou o "salve geral" no qual tentava justificar os ataques iniciados na madrugada de domingo. A descoberta da data de geração foi feita neste domingo, 13, pela Rede Globo.
A fita teria sido jogada na garagem da sede do SBT, em São Paulo, no mesmo dia, mas a rede não achou interessante exibi-lo. Entretanto, somente na manhã do sábado, 12, após tomar conhecimento do seqüestro, a fita foi entregue ao Ministério Público.
Ainda no mesmo dia, no período da tarde, as imagens foram geradas pela Rede Globo à sua afiliada de Presidente Prudente, no Oeste do Estado, onde especialistas analisariam se o material era mesmo criação do PCC. A confirmação saiu em seguida, mas nem a polícia nem o serviço de inteligência da Secretaria da Administração Penitenciária (SAP) acreditavam na possibilidade de que o PCC usaria as mesmas imagens para condicionar a libertação do repórter da Globo. "Isso foi uma surpresa para todo mundo", disse um técnico do serviço de inteligência da SAP."
>> Em nota, Globo justifica por que cedeu às exigências do PCC.
SÃO PAULO - A TV Globo aguarda com "ansiedade" a libertação do repórter Guilherme Portanova, seqüestrado no sábado, e divulgou neste domingo uma nota esclarecendo o motivo pelo qual cedeu às exigências do Primeiro Comando da Capital (PCC). Depois de consultar o International News Safety Institute (INSI), de Bruxelas, e o The AKE Group, em Atlanta, a emissora entrou em consenso e viu que a decisão mais correta era acatar ao pedido.
A idéia inicial era tomar "uma decisão em conjunto com as entidades de classe do setor". Mas como tudo aconteceu durante a madrugada, "foi impossível esperar até que o setor se pronunciasse".
Leia o texto na íntegra:
Tão logo a TV Globo tomou conhecimento da exigência dos seqüestradores na noite de sábado, fez consultas ao International News Safety Institute (INSI), com sede em Bruxelas, ao qual a emissora é filiada desde que o instituto foi fundado.
Luiza Rangel, de Caracas, coordenadora do INSI para América Latina, atestou que em situações de extrema emergência como a que a TV Globo viveu, quando os prazos são exíguos e quando não se têm dúvidas sobre o descompromisso dos bandidos para com a vida humana, a postura correta é ceder às exigências, dando antes ciência à polícia sobre o conteúdo do que irá divulgar. Segundo ela, situações assim foram vividas recentemente na Índia e no Oriente Médio.
Orientada por Luiza Rangel, a emissora também entrou em contato com Tim Crocket, chefe do escritório de Atlanta do The AKE Group, uma empresa especializada em gestão de riscos e segurança, que presta serviços à INSI, e tem escritórios nos Estados Unidos, Reino Unido, Austrália, Paquistão e Iraque.
Tim Crocket deu a mesma orientação que Luiza Rangel: nas condições em que nos encontrávamos, não havia alternativa. Ele recomendou que entrássemos em contato ainda com Tom O´Neil, consultor do escritório no Líbano, especializado neste tipo de ação. O´Neil repetiu as mesmas recomendações.
A idéia inicial da TV Globo era tomar uma decisão em conjunto com as entidades de classe do setor. Mas como tudo se deu na noite de sábado, foi impossível esperar até que o setor se pronunciasse.
Diante do que vem acontecendo em São Paulo nos últimos meses, não havia dúvida sobre até onde as ações dos bandidos podem chegar: basta dizer que os mortos já se contam às centenas. Inexistindo dúvida sobre o risco real que o repórter Guilherme Portanova sofre, e não havendo tempo para uma decisão em conjunto com seus pares, a TV Globo mostrou o conteúdo do DVD à polícia e decidiu exibir o vídeo no estado de São Paulo.
No mesmo instante, porém, decidiu também convocar as entidades do setor para que a situação seja discutida por todos e que os próximos passos sejam decididos em conjunto.
A TV Globo espera que o jornalista Guilherme Portanova seja libertado imediatamente e possa voltar a convivência de sua família e de seus colegas de trabalho. Agradece a solidariedade que vem recebendo de seus telespectadores e de seus pares e manifesta a confiança de que a nação brasileira saberá encontrar caminhos para pôr fim a esse quadro de insegurança pública.
>> Globo consultou órgãos internacionais antes de divulgar vídeo.
SÃO PAULO - Antes de divulgar as imagens mandadas pela facção criminosa Primeiro Comando da Capital (PCC), a direção da TV Globo consultou organismos internacionais que trabalham pela segurança de jornalistas. A orientação dada foi exibir a gravação, a fim de preservar a integridade física do repórter Guilherme Portanova, que continua em poder dos bandidos.
A primeira organização ouvida foi o International News Safety Institute (Instituto Internacional de Segurança para a Imprensa), entidade não-governamental à qual a emissora é filiada. De acordo com nota divulgada pela Globo, a coordenadora do instituto, Luiza Rangel, respondeu que, em casos de emergência, que ofereçam risco ao profissional, "a postura correta é ceder às exigências".
O diretor do instituto, Rodney Pinder, disse, por telefone, ao Estado, que a instituição está "extremamente preocupada" com a violência no Brasil e seus desdobramentos em relação ao trabalho dos jornalistas. Para ele, o cenário brasileiro começa a se assemelhar ao da Colômbia. Ele disse ainda que a recomendação dada à Globo foi a de procurar a companhia inglesa The Ake Group, especializada em segurança e gerenciamento de risco.
A resposta do Ake Group foi taxativa: não havia outra opção, senão atender à demanda dos criminosos. "Pareceu que não existia mesmo alternativa", disse Paul Brown, um dos diretores. "Mas explicamos que era preciso, antes de tudo, contactar as autoridades do País". A Globo então procurou a polícia e avisou que iria transmitir as imagens.