1.9.06

>> Para Bastos, prisões foram maior golpe contra PCC.

Entre os 28 presos ligados à facção estão Tatuzão, suspeito de participar do assalto ao BC de Fortaleza, e Balengo, acusado de ser um dos autores do seqüestro do repórter Guilherme Portanova.

SÃO PAULO - O ministro da Justiça Márcio Thomaz Bastos classificou a prisão de 28 pessoas ligadas à facção criminosa Primeiro Comando da Capital (PCC) como o maior golpe contra a organização. Em entrevista coletiva na sede da Polícia Federal de São Paulo, na Lapa, zona oeste da cidade, Bastos divulgou um balanço da operação Facção Toupeira, deflagrada em dez Estados do País pela Polícia Federal e que prendeu suspeitos de planejarem um grande assalto a dois bancos gaúchos, nos moldes do assalto ao Banco Central de Fortaleza, no ano passado.

Um dos presos é Lucivaldo Laurindo, conhecido como Tatuzão ou Torturado, procurado pela polícia por ser acusado de ter participado do roubo ao BC. Ele foi preso em Porto Alegre, na manhã desta sexta-feira, 1º, quando a facção planejava assaltar o Banco do Estado do Rio Grande do Sul e a Caixa Econômica Federal, na capital gaúcha. Tatuzão foi preso num quartel general da facção.

Também foi preso Carlos Alberto da Silva, conhecido como Balengo ou BL. Ele foi detido no túnel que estava sendo escavado em direção aos caixas-fortes do Banrisul e da CEF. O túnel saía de um prédio alugado e teria 85 metros de extensão. Balengo é suspeito de ser um dos autores do seqüestro do repórter Guilherme Portanova e do auxiliar-técnico Alexandre Callado, da TV Globo de São Paulo.

A ligação entre o PCC e o furto ao BC, em Fortaleza, começou a ser desvendada com a localização de um cartão de telefone pré-pago deixado no local do crime, ocorrido em 6 de agosto de 2005. A quadrilha levou mais de R$ 167 milhões. Desse total, apenas R$ 20 milhões foram recuperados.

O ministro anunciou que, em São Paulo, foram presos 12 integrantes do crime organizado e que a polícia já seqüestrou três bens que teriam sido adquiridos com o dinheiro do assalto ao BC. Segundo Thomaz Bastos, esse foi o maior golpe contra a organização criminosa que age dentro e fora dos presídios paulistas.

O rastreamento dos dados do cartão levou a outros números de telefone usados pela quadrilha. Por meio de escutas telefônicas, a PF descobriu que o bando planejava praticar novos assaltos com o mesmo método usado em Fortaleza.

>> PF ataca o PCC e prende 28 pessoas no Rio Grande do Sul.

Para o ministro da Justiça, Márcio Thomaz Bastos, a prisão do grupo pode ser considerada o maior golpe contra a organização

SÃO PAULO - Em uma operação deflagrada em dez Estados do País, a Polícia Federal já prendeu 28 pessoas acusadas de serem integrantes da cúpula da facção criminosa Primeiro Comando da Capital (PCC).Os suspeitos foram presos quando escavavam um túnel a partir de um prédio alugado, planejado para ter 85 metros, que seria usado no roubo de caixas-fortes do Banco do Estado do Rio Grande do Sul e da Caixa Econômica Federal, em Porto Alegre.

Para o ministro da Justiça, Márcio Thomaz Bastos, a prisão do grupo pode ser considerada o maior golpe contra a organização. "Foi um golpe muito forte porque eles são pegos no que têm de vital, que é a causa final do crime, o dinheiro. Então, essa operação os atinge fortemente".
Segundo previsão da PF, outras 40 pessoas serão presas durante a chamada operação Facção Toupeira. Em entrevista coletiva na sede da Polícia Federal em São Paulo, no final desta manhã, Bastos confirmou que foram presos dois líderes do PCC.

Um deles, preso em São Paulo, é irmão de um dos integrantes do bando que roubou o Banco Central de Fortaleza, no Ceará, em agosto do ano passado. O outro foi detido em Porto Alegre e teria participado do seqüestro do repórter Guilherme Portanova e do técnico Alexandre Callado, da TV Globo de São Paulo.

Os assaltantes presos esta manhã estavam escavando um túnel para ter acesso à área interna dos dois prédios, localizados no centro da capital gaúcha, numa ação semelhante ao roubo do Banco Central de Fortaleza em agosto do ano passado.

Segundo o ministro, a Polícia Federal ainda cumpre em São Paulo mais 12 mandados de prisão contra integrantes da quadrilha. Também foram expedidos pela Justiça três mandados de busca e apreensão de bens da facção.

31.8.06

>> Forças de segurança de SP ficam em alerta por aniversário do PCC.

Forças de segurança de São Paulo permanecem em alerta nesta quinta-feira, porque integrantes do PCC (Primeiro Comando da Capital) consideram o dia como aniversário da facção criminosa, criada em 1993. O comandante-geral da PM (Polícia Militar), coronel Elizeu Eclair Borges, disse ter cancelado por tempo indeterminado as folgas dos PMs do Estado. Segundo o coronel, a corporação conta nesta quinta com o triplo do efetivo nas ruas.

"Nessa data [do aniversário], nos últimos anos, o PCC costuma promover rebeliões e problemas nos presídios." Borges ressalta, porém, que as pessoas não devem mudar sua rotina. "Estamos apenas adotando medidas preventivas. Caldo de galinha não faz mal a ninguém."Na quarta-feira (30), ele participou de uma reunião de quatro horas na Secretaria Estadual da Segurança Pública, para definir as estratégias adotadas.Uma delas é a convocação de 600 homens da Rota (Rondas Ostensivas Tobias de Aguiar), grupo da PM que, ao mesmo tempo em que é considerado "tropa de elite", também é tido historicamente como o mais violento da corporação.

Seqüência

Os reforços começaram domingo (27), quando um bilhete com referências à Rede Globo foi encontrado na cela 133 da Penitenciária 2 de Presidente Venceslau (620 km a oeste de São Paulo). No dia seguinte, panfletos que alertavam sobre novos ataques foram apreendidos com adolescentes, segundo o delegado-geral da Polícia Civil, Marco Antônio Desgualdo.Na terça-feira (29), 76 presos --entre eles integrantes do PCC-- do CRP (Centro de Ressocialização Penitenciária) de Presidente Bernardes, onde vigora o RDD (Regime Disciplinar Diferenciado) para uma penitenciária de Avaré, onde ficarão sob as mesmas regras.

Naquela noite, duas agências do Unibanco localizadas em bairros nobres de São Paulo foram alvos de incêndios criminosos; e uma base da PM (Polícia Militar) em São Bernardo do Campo (Grande São Paulo) foi atacada a tiros. Não houve feridos. No mesmo horário, nove carros foram incendiados. Destes, quatro haviam sido roubados pouco antes.

>> 11 acusados de ataques em Jundiaí têm prisão decretada.


A Justiça de Jundiaí (60 km de SP) decretou anteontem a prisão preventiva de 11 acusados de envolvimento com os ataques atribuídos ao PCC ocorridos em maio na cidade durante a primeira onda de atentados. Nove deles já estão presos. Outros dois são procurados. Eles negam envolvimento nas ações.Os homens são acusados de participação no assassinato do soldado da PM Nelson Pinto, 44, atingido por três tiros na noite do dia 12 de maio enquanto fazia patrulhamento em Jundiaí.

Ele era casado e iria aposentar-se no final deste ano.Segundo investigações policiais, os tiros foram disparados por ao menos oito homens que estavam em quatro motos. Na mesma ação, os criminosos também feriram um soldado da PM.Os 11 homens foram denunciados no inquérito policial --concluído na semana passada-- por homicídio qualificado e tentativa de assassinato. Quatro deles também foram denunciados por porte ilegal de arma. Com a prisão preventiva, os presos continuam na cadeia até o julgamento do crime.

>> 'PCC não é problema só do Brasil. A crise é da civilização humana'.

Consumismo e exclusão social também estão, segundo ministro, entre as causas da conturbada realidade que se vive hoje

Entre 1965 e 66, o hoje ministro da Cultura, Gilberto Gil, viveu em São Paulo. Foi trainee da Gessy Lever, morou em Cidade Vargas, periferia da zona sul, conheceu Chico Buarque no João Sebastian Bar. Também freqüentou a Galeria Metrópole, tocou em bares como o Redondo e o Bossinha e atuou no Teatro Oficina. Anteontem, esteve em São Paulo, para acompanhar o presidente Luiz Inácio Lula da Silva na cerimônia de comemoração dos 60 anos da Cinemateca Brasileira. O ministro falou ao Estado sobre a crise na segurança:

São Paulo tem sido alvo de eventos de violência urbana. E esse assunto está presente inclusive na discussão política. Como o senhor analisa tudo isso?

Isso é muito complexo. É um modelo civilizatório todo, não é só nem a economia nem a questão social nem só propriamente a segurança, do ponto de vista policial.

O governador Cláudio Lembo apontou responsabilidades da elite.

Mas eu diria que é uma questão do sistema internacional, do modelo civilizatório. Muita dificuldade de atendimento às demandas de setores excluídos, a questão da saúde, da educação, os modelos. A transferência das responsabilidades quase que totais pela vida ao sistema de produção, esvaziamento do papel do Estado. É questão de mudança do modelo de civilização, hoje fundado no consumismo, esvaziamento da dimensão simbólica - considerada hoje coisa desprezível -, esse materialismo excessivo. O esvaziamento da dimensão mitológica da vida, que faz com que as culturas não sejam absorvidas mutuamente umas pelas outras, o cientificismo, o economicismo. Para mim, é tudo isso.

E como o senhor sugere encarar o problema?

A minha visão é de que o problema é completo, é do nosso momento civilizatório, desse ciclo da civilização, da forma como foi imposto esse ciclo. Ainda ontem eu vi o (jornalista) Sílio Boccanera entrevistar um indiano sobre a questão das castas, o modelo indiano de inserção, a rejeição cada vez maior que as elites indianas têm aos pobres, querendo se livrar dos pobres de uma forma meio nazista, meio fascista. O problema não é só no Brasil. É a civilização humana que está em crise.

30.8.06

>> Bandidos promovem quatro ataques; cidade tem dia normal.

Suspeita-se que os atentados podem estar ligados a facção criminosa

SÃO PAULO - Bandidos atacaram quatro alvos na cidade entre o final da noite de terça-feira e a madrugada desta quarta-feira. Acredita-se que os últimos atentados no Estado podem estar ligados ao Primeiro Comando da Capital (PCC). O transporte público funciona normalmente na manhã desta quarta-feira na cidade.

Segundo o Corpo de Bombeiros, os incêndios ocorreram na Vila Nova Curuçá, zona leste, no Jardim Taquaral, região do Campo Grande, zona sul, em Vila Dalva, região do Rio Pequeno, na zona oeste. Os veículos destruídos não eram carros de polícia.
Na zona oeste, vândalos lançaram papéis embebidos em álcool e atearam fogo contra uma agência do Unibanco. Não há registro de feridos.

A SPTrans, empresa que administra o transporte coletivo na capital paulista, informa que não foi registrado nenhum ataque contra ônibus nem na noite de terça-feira ou nas últimas horas em toda a cidade. Neste momento, os cerca de 15 mil ônibus das 16 empresas que operam em São Paulo circulam normalmente, sem qualquer problema para a população.

No final da noite de terça-feira, a facção iniciou uma nova onda de violência. Um homem encapuzado ateou fogo em quatro caixas eletrônicos do Unibanco no Brooklin, zona sul. Depois, bandidos atacaram uma agência bancária no Sumaré, zona oeste. O fogo foi apagado antes de destruir a agência. Não houve vítimas em nenhum dos casos

Em Ribeirão Preto, no interior, foram registrados pelo menos dois atentados. No fim da tarde, um tiro foi disparado contra o CDP, na Rodovia Abraão Assed. Às 19h10, o ataque foi contra uma agência do Banespa, na Avenida 13 de Maio, no Jardim Paulista. Três tiros foram disparados contra o banco. Em Santos, no litoral, homens passaram em uma motocicleta e balearam o vigia de escola.

Em São Paulo, a Polícia Civil reforçou a segurança nas delegacias. “Toda a polícia já está em alerta”, disse, o delegado-geral, Marco Antônio Desgualdo, no final da noite de terça-feira.

29.8.06

>> Panfleto do PCC fala em ação mais audaciosa.

"A menos que seja dado um basta nessa situação, levaremos até as últimas conseqüências essa guerra por justiça", diz panfleto da facção

SÃO PAULO - O Primeiro Comando da Capital (PCC) promete ações "em proporções ainda não vistas" caso a Justiça não tome providências contra supostas maus tratos a presos no sistema prisional. "Daremos nossas vidas se necessário. A menos que seja dado um basta nessa situação, levaremos até as últimas conseqüências essa guerra por justiça. Violência gera violência e covardia gera covardia." A disposição de atacar e morrer está expressa em um panfleto distribuído em diversas regiões de São Paulo nesta segunda-feira, 28.

A propaganda feita pela facção criminosa foi detectada pela inteligência da polícia. Ela começa dizendo que "o governo do Estado tem usado os veículos de comunicação para induzir a Justiça e a população a uma pensamento equivocado do verdadeiro motivo que nos levou às ações armadas". Teme-se que o PCC esteja planejando novos ataques para 31 de agosto (data da fundação da facção) ou 7 de setembro.

A Coordenadoria dos Presídios da Região Oeste do Estado de São Paulo informou que não responderá às acusações dos panfletos por se tratar de "comunicados apócrifos que caracterizam denunciação caluniosa".
Na análise da inteligência policial, o panfleto está relacionado à apreensão de um bilhete na cela do seqüestrador Paulo César Souza Nascimento Junior, o Paulinho Neblina, preso na Penitenciária 2 de Presidente Venceslau. O bilhete foi apreendido na cela 133 do raio 1 da prisão, às 17h30 de domingo, e deixou a cúpula do governo em alerta. O manuscrito de cerca de dez linhas estava sobre a cama de Paulinho Neblina. Ele trata de um plano que provoque mais impacto do que o seqüestro de funcionários da Rede Globo, no dia 12.

A Secretaria da Administração Penitenciária (SAP) informou que o bilhete já é objeto de investigação. A mensagem é assinada pelo próprio Paulinho, condenado a 89 anos de prisão. Ele é um dos mais perigosos integrantes do PCC. O Departamento de Inteligência da secretaria tenta identificar o destinatário da carta, descrito no texto só como Negão.
No bilhete, Paulinho diz: "Negão, se possível chamar na caneta aquela situação que você fez." Depois, menciona o seqüestro do repórter Guilherme Portanova e do auxiliar técnico Alexandre Calado. "Tem que ser feito daquela forma mesmo. É mais um bonde para ser puxado, mas é maior do que o que foi feito na Globo." (Colaborou Chico Siqueira)

>> Bombas apreendidas no Rio tinham siglas do PCC e do CV.

Siglas das organizações criminosas PCC (Primeiro Comando da Capital), de São Paulo, e CV (Comando Vermelho), do Rio, foram encontradas pintadas nas 52 bombas de fabricação caseira apreendidas segunda-feira (28) na favela Beira-Mar, em Duque de Caxias (Baixada Fluminense).A comunidade é reduto de Luiz Fernando da Costa, o Fernandinho Beira-Mar, um dos principais traficantes do país, atualmente preso na penitenciária federal de Catanduvas, no Paraná.Segundo a polícia paraguaia, a quadrilha de Beira-Mar se aliou a membros do PCC que atuam na fronteira com o Brasil e, juntos, estão intermediando a entrada de armas no país.

No início do mês, um arsenal com 234 armas pesadas, entre fuzis, pistolas e submetralhadoras e cerca de 50 mil munições, foi interceptado em Pedro Juan Caballero, na fronteira com Mato Grosso do Sul. O armamento pertenceria a Beira-Mar e ao PCC.Responsável pela operação, o delegado Ronaldo de Oliveira, do Serviço de Entorpecentes da Baixada Fluminense, afirmou que as armas encontradas na Beira-Mar têm poder para destruir paredes e serviriam apenas para defender a favela de ataques de grupos rivais ou de operações da polícia.

As bombas encontradas na favela estavam enroladas em um cobertor.Na ocasião em que apreendeu as bombas, a Polícia Civil prendeu Ernane Souza da Luz, 33, suspeito de gerenciar o tráfico de drogas na Barreira do Vasco, em São Cristóvão. Luz esperava por Gilson Brígido dos Santos, suposto líder do tráfico no Morro do Andaraí, quando foi preso.Em menos de duas semanas, esta é a segunda apreensão de material supostamente ligado às duas facções. No domingo retrasado, foi achado um balão no morro da Providência (centro do Rio) com as inscrições dos dois grupos.

Contabilidade

Em outra operação na Beira-Mar, policiais apreenderam um caderno sobre a contabilidade do tráfico no local.No material, havia anotações indicando que os traficantes pagariam propinas que variam entre R$ 1.600 e R$ 2.200 todas as sextas-feiras, sábados e domingos a policiais para que eles não atrapalhem a venda de drogas na comunidade.Não está indicado nas anotações, no entanto, se são policiais civis ou militares que receberiam o dinheiro.

Lista de presos

As anotações trazem ainda uma lista com uma série de traficantes presos em penitenciárias fluminenses que receberiam dinheiro da quadrilha. O inquérito será remetido para as Corregedorias das duas corporações.Em ambas as ações, foram apreendidas maconha, crack, cocaína, três revólveres, além de munições de diversos calibres. Uma mulher e dois homens (um deles filho dela) foram presos.A favela Beira-Mar costuma receber as drogas vindas do Paraguai e, depois, a redistribui para as outras comunidades controladas pelo CV.

28.8.06

>> Reintegrados só no papel.

55 mil presos na condicional não têm assistência

O Estado não fiscaliza nem tem cadastro dos 55.642 presos beneficiados com a liberdade condicional nos últimos seis anos. Os liberados condicionais estão espalhados pela Capital, Grande São Paulo e Interior. Eles deveriam ter acompanhamento do Conselho Penitenciário, subordinado à Secretaria da Administração Penitenciária (SAP), responsável por essas atribuições.

A única forma de controle é o carimbo mensal na caderneta com os dados judiciais de cada sentenciado. Mas isso só acontece quando ele procura o órgão competente.O Conselho Penitenciário do Estado é o órgão consultivo e fiscalizador da execução penal. Algumas de suas atribuições são cadastrar e registrar, eletronicamente, os liberados condicionais. Também deve acompanhar o cumprimento das condições do livramento condicional, além de avaliar, orientar e supervisionar os liberados condicionais.

O Conselho não foi criado para perseguir, mas para ajudar a ressocializar e evitar a reincidência criminal do sentenciado.Essas atribuições, no entanto, só existem na teoria. Na prática, a realidade é outra. Na Capital, o Conselho não cadastra os liberados condicionais. Não tem o endereço deles. Não sabe em que condições eles vivem, se são solteiros ou casados, se têm filhos, se foram ou não reintegrados à sociedade ou se voltaram para o crime.

O sentenciado é quem tem que procurar o Conselho, uma vez por mês, na Avenida Brigadeiro Luís Antônio, 554, Centro, para carimbar a caderneta, espécie de passaporte para ter o direito de ir e vir.Condenado a 8 anos por roubo, Carlos Augusto Cabral dos Santos, 43 anos, está em liberdade condicional e mora com a mulher e os quatro filhos na Zona Leste. Ele contou que nunca foi procurado pelo Conselho Penitenciário.

“Eles nada sabem do meu dia-a-dia. Não sabem onde eu moro e que estou trabalhando. Jamais tive algum tipo de acompanhamento ou assistência social. Se eu apresentar uma declaração falsa de trabalho ou fornecer um endereço falso, ninguém investiga. Assim fica difícil se reintegrar à sociedade”, argumentou. C., de 51 anos, está revoltado. Ele também é liberado condicional e ficou 17 anos preso. “O Conselho Penitenciário é só política, não ajuda ninguém, principalmente os egressos. Não acredito em mais nada”, desabafou.

Condenado por furto e roubo, M.J.S., 49 anos, também morador na Zona Leste, saiu em liberdade condicional em maio deste ano. Nesses três meses, ele nunca foi procurado pelo Conselho, mas foi ao órgão carimbar a caderneta.No Interior, onde mora boa parte dos beneficiados com a liberdade condicional, a situação é mais complicada ainda. O Conselho Penitenciário não tem subsede nos municípios.

Os liberados condicionais têm de procurar o fórum de sua comarca de origem para carimbar a caderneta com seus dados processuais.Outras funções do Conselho são emitir pareceres sobre livramento condicional, indulto e comutação de pena e também inspecionar os estabelecimentos penais. No Estado, 126 mil detentos cumprem pena em 144 unidades subordinadas à Secretaria da Administração Penitenciária.

O Conselho Penitenciário do Estado é composto por 20 integrantes designados pelo governador. São seis médicos psiquiatras, quatro procuradores de Justiça, dois procuradores da República, quatro advogados, dois procuradores do Estado e dois psicólogos. Eles têm como suplentes três médicos psiquiatras, dois procuradores de Justiça, um procurador da República, dois advogados, um procurador do Estado e um psicólogo.

Os integrantes do Conselho têm mandato de quatro anos. No Estado de São Paulo, o presidente do Conselho Penitenciário é Umberto Luiz D’Urso. Ele foi procurado pelo JT, mas informou, através de sua assessoria, que não tinha autonomia para dar entrevista.