Blusa entregue por ela pode não ter sido a usada no dia do crime; perícia deve chegar a horário exato da morte.
A Polícia Civil investiga a possibilidade de que a blusa entregue pela advogada Carla Cepollina, de 40 anos, para a perícia não seja a que ela usava no dia do crime. Para chegar a uma conclusão, vai tentar melhorar a qualidade das imagens de vídeo que flagraram Carla chegando em casa, na noite do dia 9. Caso a roupa tenha sido trocada, a polícia pode pedir a prisão temporária da advogada.
A perícia já sabe que a namorada do coronel entregou sua calça depois de lavá-la com sabão e água sanitária, o que praticamente inviabiliza qualquer exame pericial na roupa.Os peritos do Instituto Médico-Legal (IML) encontraram um bolo alimentar preservado, quase sem digestão, no estômago de Ubiratan. A polícia quer saber qual foi a última refeição do coronel para determinar o horário da morte e, assim, ter certeza de que Carla estava no apartamento do coronel na hora do crime.
O exame do estômago do coronel ficou pronto anteontem. Segundo peritos, uma digestão completa demora de três a seis horas. Sabe-se que o coronel almoçou na Sociedade Hípica Paulista por volta das 15 horas do sábado, dia 9. O que não se divulga é o que ele comeu, um segredo que a polícia mantém para preservar a investigação.Caso o que ele almoçou seja o mesmo alimento achado no estômago, será possível determinar que o coronel morreu entre 18 horas e 21 horas daquele dia. Foi por isso que o Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP) ouviu ontem um funcionário da Hípica.
DÚVIDA
Com o resultado desse exame, não me resta mais dúvida de que o coronel morreu no momento em que Carla estava no apartamento', disse o advogado Vicente Cascione, que representa a família de Ubiratan. Ela nega e diz que esteve com Ubiratan das 19 horas às 20h30.
Diz ser inocente e afirma que não matou o coronel.Outros exames do IML ficaram prontos.
Constatou-se que o coronel levou um tiro de cima para baixo a pelo menos um metro de distância.Também se sabe que o coronel tinha álcool no sangue (1,5 miligrama por litro), comprovando que ele bebeu. Sobre o estômago, os peritos disseram que a ingestão de álcool, um banho ou uma relação sexual podem influir na rapidez da digestão.
ASSESSORES
Depois do funcionário da Hípica, os investigadores ouviram dois assessores que trabalhavam no comitê de campanha de Ubiratan. Deputado estadual pelo PTB, o coronel disputava a reeleição e usava como identificação o número 14.111. Em fevereiro, ele foi absolvido pela Justiça da acusação de ter se excedido no massacre de 111 presos do Carandiru, em 1992.A polícia também queria saber dos assessores como havia sido o sábado do coronel e o que ele comeu.
Para Cascione, tudo está ocorrendo lentamente na investigação. 'O que me assusta é que está se transformando o caso Ubiratan em uma nova Rua Cuba', afirmou o advogado, referindo-se ao crime ocorrido em 1988 na casa 109 da Rua Cuba, nos Jardins - o assassinato do advogado Jorge Toufic Bouchabki e sua mulher, a professora Maria Cecília. Até hoje, o assassino do casal não foi julgado pela Justiça.
Nesse caso, está havendo um tratamento diferenciado, pois nem de suspeita a polícia teve até agora a coragem de chamar essa mulher (Carla)', disse Cascione.Por fim, ele afirmou: 'Se fosse na periferia, a polícia teria cumprido mandado de busca e apreensão na casa dela, pois como é que o Ubiratan morre e ela não vai nem ao apartamento ver a pessoa que ela diz ser seu amado na noite em que ele foi encontrado? A confissão tácita está nas entrelinhas.' A polícia informou que não vai se manifestar diante de nenhuma 'alegação das partes'.