28.9.06

>> Polícia conclui indiciamento de namorada do coronel Ubiratan.

Dezoito dias depois do assassinato do coronel Ubiratan Guimarães, a Polícia Civil de São Paulo concluiu, nesta quarta-feira, o indiciamento da namorada dele, a advogada Carla Cepollina, 40, pelo crime.O processo de indiciamento começou na segunda-feira (25), com o início do quarto interrogatório dela na sede do DHPP (Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa).

O depoimento havia sido interrompido porque Carla teria dito que estava estressada, e para que a polícia realizasse buscas no apartamento dela. Na ocasião, foram encontradas três armas no local, e a mãe dela, a também advogada Liliana Prinzivalli, indiciada por posse ilegal de arma.Os outros três depoimentos de Carla haviam acontecido na semana posterior ao crime, que aconteceu no dia 9.

Na época ela ainda era considerada testemunha do caso. Segundo a polícia, já foram recolhidas as impressões digitais e feitas fotos de Carla.Para o delegado Armando de Oliveira da Filho, que conduz as investigações, não há mais dúvidas de que Carla matou o coronel. "O caso está 100% esclarecido", afirmou.

O promotor que acompanha o caso, Luis Fernando Vaggione, também diz ter convicção que ela foi a autora do disparo que matou Ubiratan.O inquérito deve ser concluído dentro de três dias. Depois disso, o promotor Vaggione tem 15 para analisar o caso e apresentar a denúncia à Justiça.

Crime

Comandante da operação conhecida como massacre do Carandiru, que resultou na morte de 111 presos em 1992, Ubiratan morreu com um tiro no abdômen, no último dia 9. O corpo foi encontrado na noite seguinte, enrolado em uma toalha, no apartamento dele, nos jardins, zona oeste de São Paulo.

Uma das sete armas que o coronel mantinha em casa --um revólver calibre 38-- não foi encontrada no local do crime. Segundo a polícia, o coronel foi morto com uma bala do mesmo calibre, que poderia ser de uma munição especial, segundo o advogado da família de Ubiratan, Vicente Cascione.

Depoimento

Segundo informações da polícia, na primeira vez que foi ouvida Cepollina teria confirmado uma discussão com Ubiratan por causa de um telefonema recebido na noite do crime, de uma delegada da Polícia Federal, amiga de Ubiratan. A mãe da namorada do coronel negou que tenha havido uma briga entre os dois.

Na semana passada, o TJ (Tribunal de Justiça) de São Paulo negou um habeas corpus preventivo pedido em favor de Cepollina. O pedido havia sido feito pela mãe de Carla, alegando coação ilegal, de acordo com o tribunal. Em sua decisão, o desembargador José Orestes de Souza Nery, da 9ª Câmara Criminal, não há evidências de ilegalidade.

A investigação corre sob segredo de Justiça, determinado pelo juiz Richard Chequini, do 1º Tribunal do Júri, no dia 15. No mesmo dia, Chequini determinou a quebra de sigilo telefônico do coronel, de sua namorada e de mais seis pessoas.

27.9.06

>> Perueiros na mira por lavar dinheiro.

Polícia pede mandado de busca em concessionárias de carros na investigação sobre ligação entre cooperativa e PCC.

A 7ª Delegacia Seccional (Itaquera) vai solicitar à Justiça mandados de busca e apreensão em pelo menos duas revendedoras de veículos - uma na capital e outra no interior - suspeitas de participar de um esquema de lavagem do dinheiro arrecadado por perueiros da Associação Paulistana.

Na semana passada, quatro garagens da cooperativa, que opera linhas na zona leste, foram alvo de operação da Polícia Civil que resultou na prisão de três pessoas, entre elas, o presidente, Agnaldo Sabino Pereira.Na operação, investigadores acharam notas fiscais e comprovantes de transferência bancária da cooperativa para as lojas de automóveis. Foragido, o ex-diretor da Garagem 2, da Associação Paulistana, Cléber Coca, acusado de cobrar propina dos operadores, é quem teria autorizado as operações - uma delas no valor de R$ 10 mil.

A polícia desconfia que ele seja sócio em uma das revendedoras, embora ainda não tenha tido acesso ao contrato social da empresa. Uma terceira loja, localizada no Tatuapé, zona leste, também está sob suspeita.'Por enquanto são apenas indícios. Vamos analisar melhor os documentos e os arquivos dos computadores para ver se há algo ilícito nessas transferências', afirmou o delegado Murilo Fonseca Roque, do Setor de Investigações Gerais (SIG), da 7ª Seccional.

Ontem, ele começou a interrogar os diretores da Associação Paulistana. O objetivo da investigação, agora, é rastrear a movimentação financeira da cooperativa para verificar possíveis desvios de recursos para criminosos ligados ao Primeiro Comando da Capital. A hipótese vem sendo apurada desde março, quando a 7ª Delegacia Seccional instaurou inquérito para obter mais informações sobre denúncias de extorsão na Garagem 2.

O delegado não descarta pedir apoio à São Paulo Transportes (SPTrans), empresa que gerencia o sistema de transporte coletivo da cidade, para entender o funcionamento do setor. Roque pretende confrontar os depoimentos dos perueiros com as informações fornecidas pelos técnicos da Prefeitura.

TIJOLO DE MACONHA

Dos três perueiros presos em flagrante na última sexta-feira, apenas o presidente da cooperativa permanece na cadeia. Dois diretores da G2, Fábio Lopes da Costa, de 26 anos, e Eliel Alves Flores, de 25, autuados por tráfico de drogas e por porte de armas de uso restrito, foram libertados no sábado.

Os advogados deles alegaram que o tijolo de maconha e o carregador para pistola calibre 9 mm foram apreendidos em uma sala da cooperativa, e não com eles.Sabino não teve o mesmo benefício, pois, segundo a polícia, os 12 projéteis para fuzil calibre 762 estavam guardados em uma gaveta no escritório dele.

A defesa de Sabino já entrou com recurso e aguarda uma resposta do Departamento de Inquéritos Policiais (Dipo). Sabino continua preso na carceragem do 8º DP (Brás), que possui celas destinadas a ex-policiais. O líder dos perueiros é ex-cabo da Polícia Militar.

26.9.06

>> Polícia busca arma na casa de Carla.

Elas foram apreendidas, mas hipótese de que tenham sido usadas no crime é remota; legalidade de porte será apurada

A Polícia Civil encontrou ontem à noite pelo menos duas armas na casa da advogada Carla Prinzivalli Cepollina, acusada do assassinato do coronel e deputado estadual Ubiratan Guimarães. Mas, segundo o Estado apurou, provavelmente não se trata do revólver calibre 38 usado no crime. A polícia vai investigar se as armas são legalizadas. Carla havia prestado depoimento até as 17 horas, quando o delegado Marco Antônio Olivatto decidiu fazer uma busca na casa em que ela mora com a mãe, a advogada Liliana Prinzivalli, para tentar achar o revólver usado no crime.

Por volta das 23h30, quatro carros do Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP) deixaram o prédio de Carla levando objetos encontrados no local. O indiciamento da suspeita será feito oficialmente hoje, após a conclusão do interrogatório. “Tenho a impressão de que ela (Carla) vai admitir a autoria”, afirmou o advogado Vicente Cascione, que representa a família de Ubiratan. Para ele, o cerco à suspeita se fechou. “Manter a negativa diante de provas tão contundentes não seria de bom senso.”

O mandado de busca e apreensão na casa da advogada foi concedido pelo juiz do 1º Tribunal do Júri da capital, Richard Chequini. Além do revólver, os policiais do DHPP saíram à procura de roupas manchadas de sangue e outros indícios que pudessem incriminar Carla. Ela e a mãe chegaram ao apartamento às 18h15, num carro descaracterizado da Polícia Civil, acompanhado de outras três viaturas.

A polícia justificou o pedido de busca alegando que uma empregada de Carla disse ter visto roupas com manchas vermelhas.O interrogatório no DHPP tinha começado às 11h40. Carla estava acompanhada por seu advogado, Antônio Carlos de Carvalho Pinto, especialista em homicídios, e pela mãe, que é criminalista. Começou a ser questionada sobre detalhes do que ocorreu no dia 9, quando o coronel foi morto. “Ela caiu em contradições”, disse Cascione.O delegado Olivatto questionou Carla sobre cada um dos depoimentos e indícios colhidos.

Entre eles estão os horários dos telefonemas para Ubiratan feitos pela delegada federal Renata Madi, amiga da vítima. Segundo Cascione e os três filhos do deputado, Ubiratan namorava Renata e havia rompido com Carla fazia sete meses. Ele aceitava, porém, que ela continuasse participando de sua vida.Carla nega o rompimento. A advogada entregou ao delegado um pacote com notas fiscais para provar que ainda fazia compras com o coronel e o relacionamento não havia acabado.

Carla estava no apartamento do coronel quando a delegada Madi telefonou duas vezes para Ubiratan, no dia do crime. Foi ela quem atendeu às ligações, uma no celular e outra no telefone fixo, entre 19 e 20 horas. Nesse horário, uma vizinha do deputado escutou um barulho que, mais tarde, identificou como um tiro. “Se excluir Carla de todos esses cenários, não sobra nada”, afirmou Cascione.

A presença do advogado da família Ubiratan no interrogatório de Carla causou problemas. Liliana exigiu que o delegado mandasse Cascione exibir a carteira da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) e a procuração dos filhos da vítima para que pudesse permanecer na sala. Depois da discussão, o delegado parou o interrogatório para fazer a diligência.O indiciamento é a peça formal em que uma pessoa é apontada como autora do crime.

O passo seguinte será a produção do relatório final do inquérito policial e seu envio ao Ministério Público Estadual (MPE).Com o relatório, o promotor Luiz Fernando Vaggione decidirá se denuncia ou não Carla à Justiça. Caso o faça, e a Justiça aceite seus argumentos, Carla será processada criminalmente e poderá ir a júri popular, sob a acusação de homicídio duplamente qualificado - por motivo torpe e porque Ubiratan não teve chance de defesa.

Defesa pode usar confissão para reduzir pena

Caso seja denunciada pelo Ministério Público, Carla Cepollina e seus advogados terão de decidir qual estratégia a defesa adotará. A chamada tese de negativa de autoria é aquela em que um acusado, por exemplo, de homicídio afirma não ter sido responsável pelo crime. Trata-se, segundo advogados criminalistas, de posição arriscada. Caso convença os jurados, o réu é absolvido. Mas, se isso não ocorrer, o réu corre o risco de uma condenação alta.

Quando o réu admite o crime, a defesa pode contar com várias possibilidades. Pode alegar a legítima defesa diante da agressão de alguém. Pode dizer que o réu tentou defender outra pessoa ou que agiu no estrito cumprimento de seu dever. Existem outras possibilidades, como afirmar que a vítima morreu em decorrência de um disparo acidental.

O tiro pode ter ocorrido num momento de violenta emoção para o autor ou em resposta a uma ameaça, à iminência de uma agressão pressentida, por exemplo, num gesto da vítima - a menção de sacar um revólver. A vantagem para o réu é que essas teses também levam à absolvição ou provocam, em caso de condenação, diminuição substancial da pena.

25.9.06

>> Querem acobertar culpado, diz namorada do coronel Ubiratan.

Prestes a ser indiciada pelo assassinato de seu namorado, o coronel da reserva e deputado estadual Ubiratan Guimarães, 63, a advogada Carla Cepollina, 40, afirma que é bode expiatório de quem quer "acobertar o verdadeiro culpado". Em entrevista ontem à Folha, disse que a polícia não tem provas para indiciá-la. "As pessoas querem precisão de horários, de quantidade de roupa que lavei, de batatas que comi.

" Carla afirmou também que a morte de Ubiratan pode estar ligada a uma "questão patrimonial". Segundo ela, o coronel passou os bens para os filhos por causa de uma dívida trabalhista. "Se tinha algum tipo de vantagem financeira com a morte dele, não era minha." Leia trechos da entrevista:

FOLHA - A polícia pretende indiciá-la pela morte do coronel nesta segunda. A sra. matou Ubiratan?

CARLA CEPOLLINA - Não. Eu não tinha motivos para matá-lo.

FOLHA - E por que a sra. é apontada pela polícia como principal suspeita?

CARLA - Ser alvo de investigação é normal, era namorada dele. Agora, acho que estão me indiciando para acobertar o verdadeiro culpado. E para responder a esse afã popular de que tem de achar culpado rápido. Não tem prova contra mim. Não terá prova pericial. O que eles têm é: a altura [da pessoa que atirou] é mais ou menos a minha, eu saí e cumprimentei o porteiro [do prédio de Ubiratan]. Em todos os meus depoimentos, não tem contradição.

FOLHA - Vão indiciar sem prova?

CARLA - É só porque eles alegam que fui a última pessoa a sair do prédio. Num prédio que não tem segurança, câmera, e os porteiros entraram em contradição nos depoimentos. Um deles falou que eu passei, fui embora. Eu até falei: "Tchau, seu Antonio, não esqueci a sua lembrancinha". Foi aniversário dele no dia 7. Ele falou que fui embora sete e pouco. Depois disse que tinha se enganado e fui embora umas dez e meia. O circuito de televisão daqui [do prédio onde mora] mostra que estava às 21h06 aqui.

FOLHA - A sra. se julga, então, bode expiatório?

CARLA - Eu sou. Para encobrir quem foi e para dar satisfação para esse clamor popular.

FOLHA - A sra. pode detalhar o que aconteceu enquanto estava no apartamento?

CARLA - A Renata [Madi, amiga de Ubiratan] ligou no celular.

FOLHA - A sra. pode falar o horário?

CARLA - É tudo aproximado. Explico por quê. Você está num sábado, com o namorado, normal. Então, você tem tudo uma idéia mais ou menos aproximada. Não é gincana. A que horas você chegou à hípica? A que horas cumprimentou o zezinho? A delegada perguntou quantas batatas comi. Não é assim. Para mim, era só mais um sábado com o Ubiratan. A delegada fez minha empregada chorar porque queria que ela lembrasse exatamente quantos baldes de molho [de roupa] tinha há dez dias. Quem sabe isso? As pessoas querem precisão de horário, de quantidade de roupa que lavei, de batatas que comi.

FOLHA - A que horas a Renata ligou no dia do crime?

CARLA - Por volta das 19h, essa moça ligou no celular. Ubiratan dormia. Falei: "o Ubiratan está dormindo, quer que chame?". Sim. Dei o celular para ele. Ele falou, deu uma cortada, jogo rápido. Desligou. Aí o fixo ligou uma série de vezes. Era ela. Eu falei para ele se iria atender, ele ficou na dele. Acontece que ele tinha bebido, estava de mau humor pois ela tinha ligado. Falei: "Então tchau, vou embora".

FOLHA - Não houve discussão?

CARLA - Não. Que discussão? Se tivesse uma discussão, não tinha dado nem o primeiro telefone para ele.

FOLHA - Quem era a Renata na vida dele?

CARLA - Não sei. Eu a vi uma vez, no julgamento [do massacre do Carandiru]. Parece que eles se conheciam havia muito tempo. Assim como ele conhecia um monte de pessoas havia muito tempo, eu também.

FOLHA - Ele era muito assediado por mulheres?

CARLA - Por muita gente. Tinha muitos fãs, eleitores. Por mulheres também. Uma vez estávamos em um jogo de futebol e uma mulher mandou um guardanapo com um beijo. E você me desculpa: todo mundo vota.

FOLHA - Os filhos do coronel a descrevem como ciumenta, possessiva.

CARLA - Fiquei com o Ubiratan dois anos e quatro meses. Se fosse ciumenta, possessiva, não teria sido tanto tempo. Ele fazia o que queria, na hora em que queria. Não era de meio-termo.

FOLHA - Por que os filhos dele não reconhecem esse relacionamento?

CARLA - Acho que foram instruídos a falar isso. O Fabrício [filho], em 7 de abril, num churrasco, me apresentou à namorada e a centenas de pessoas: "Essa é minha madrasta".

FOLHA - Com que intenção os filhos negam esse relacionamento?

CARLA - Eu acho que foi aventada a possibilidade de ser um problema patrimonial. Acho que eles têm medo que eu peça dinheiro. Se tem uma questão patrimonial a ser suscitada aí, certamente não é da minha parte. O apartamento já estava no nome dos filhos, o carro, a criação de avestruz, a casa do Brooklin. Se tinha algum tipo de vantagem financeira com a morte dele, não era minha.

FOLHA - Essa questão patrimonial pode ser a causa da morte?

CARLA - Acho que sim. Não entendo o comportamento dessas pessoas que mentiram ou denegriram minha imagem. Acho que eles estão armando. Eu estou provando que eles mentiram. Especialmente os filhos.

FOLHA - E por que fariam isso?

CARLA - Não sei. Por que sou o pato da vez? Acho que eles querem desviar a atenção do verdadeiro culpado. Talvez estejam encobrindo alguém. Por exemplo, os filhos falaram que eu não estava com o pai, o que eu já mostrei que era mentira. Depois, falaram que o pai não tinha problemas e rolos. Mentira. Ele está sendo acionado [na Justiça] pelo pessoal da Airon, uma dívida trabalhista enorme.

FOLHA - Empresa de quê?

CARLA - De segurança, dele. Vira-e-mexe tinha oficial lá. Então, tudo que ele tinha já estava em nome dos filhos, de outras pessoas. Então, eles declararam que o pai não tinha problema, rolo. Não é verdade. Se eles querem mostrar que o pai era limpo, peguem os bens que o pai passou para eles por causa da dívida trabalhista e paguem a Airon, já que eles querem tanto ser honestos.

FOLHA - Como era o seu relacionamento com o coronel?

CARLA - Estável, legal, sólido, rico. A gente bolava tudo, fazia a campanha. Tinha planos para depois da eleição. A eleição estava ganha. Por que eu iria matar esse homem? Por causa de um telefonema? Aí eu coloco um plano de vida, uma parceria, e queimo isso por causa de um telefonema? Gente, que sentido faz isso? [Carla se emociona] Eu perdi um parceiro, todos os planos de um futuro, e ainda sou acusada de ter feito uma barbaridade dessas. Eu estou aqui. Emagrecendo, me consumindo, sentindo saudade dele, e sendo acusada.